Não há futuro para uma pecuária que não seja responsável

Mateus Paranhos, pós-doutor em bem-estar animal pela Universidade de Cambridge e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp)

A produção responsável de proteínas animais entrou de vez no debate com a sociedade como um todo. Cada vez melhor informadas e ativas nas discussões sobre origem, boas práticas, bem-estar e conforto animais, as pessoas exigem mais sustentabilidade no ciclo do produto que consumirão, sem deixar de lado a proteção do meio ambiente, o acesso democrático aos alimentos e o retorno econômico proporcionado pelo agronegócio. Nesse cenário, felizmente é possível avaliar que não há mais futuro para uma pecuária que não seja responsável.

Esse fato impacta um mercado gigantesco. Afinal, estamos falando em mais de 40 milhões de bovinos abatidos por ano, de um rebanho de 215 milhões de cabeças. São mais de 9 milhões de toneladas de proteína/ano, das quais 2 milhões de toneladas são destinadas a mais de 150 países, com receita superior a US$ 8,5 bilhões para os frigoríficos brasileiros, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas (Abiec).

Nesse cenário, a preocupação com o bem-estar dos animais mobiliza cientistas, técnicos e produtores – não apenas no Brasil, mas em todo o mundo – para o desenvolvimento e a implementação de técnicas de criação e manejo que tenham em conta o conforto dos bovinos. Esse processo está se concretizando por meio de profundas transformações em todos os elos da cadeia, as quais resultam em melhorias, novas tecnologias e, principalmente, valorização de uma produção que alia mais segurança, bem-estar e sanidade, entre outros indicadores.

O resultado ocorre na forma de mais eficiência no uso de recursos naturais e, ainda mais relevante, a preservação ambiental. Essa é uma demanda global, cuja realização pode fazer nosso país se destacar ainda mais entre os principais players globais. Afinal, já sendo um dos principais fornecedores de alimentos para o mundo, o Brasil vê sua importância crescer ainda mais nos próximos anos, especialmente com o foco na produção sustentável, respeitando os recursos naturais e continuando a garantir proteínas animais de excelência.

A construção de uma pecuária responsável é colaborativa. É importante integrar a sociedade na elaboração de projetos executáveis e aplicáveis que suportem as regras do bem-estar animal, envolvendo nutrição, saúde, ambiente e conforto, comportamento e saúde mental.