O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) publicou recentemente portaria que reconhece nacionalmente como livre de febre aftosa sem vacinação os estados do Amapá, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Roraima, São Paulo, Sergipe e Tocantins e o Distrito Federal. A esses estados, somam-se Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e partes do Amazonas e do Mato Grosso que já tinham o mesmo status, inclusive com reconhecimento internacional pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). A meta é que o Brasil se torne totalmente livre de febre aftosa sem vacinação até 2026.
Segundo Diego Viali, médico veterinário que coordena a área de Febre Aftosa da Organização Panamericana de Saúde (OPAS/OMS), a vacinação foi importante para erradicarmos a doença na América do Sul. Nas Américas, todos os países são livres de aftosa (com vacinação ou sem), com exceção da Venezuela, onde o risco está associado à região Andina, na fronteira com a Colômbia, na qual ainda pode ocorrer a circulação viral e onde a vacinação segue obrigatória.
Viali afirma que “a vacina não protege como se fosse um escudo”. A febre aftosa tem sete sorotipos e a vacina usada no Brasil protege contra dois deles. Ou seja, há outros cinco tipos que essa vacina não protege, quatro deles ainda em circulação pelo mundo.
Gabriel Adrian Sanchez Torres, também médico veterinário e especialista em febre aftosa, explica que o MAPA apenas autoriza a interrupção da vacinação para estados que tenham alcançado critérios mínimos de qualidade em seus serviços veterinários oficiais. Assim, obter autorização para suspender a vacinação e entrar na fase de transição para zona livre sem vacinação é um processo complexo, que tem custado anos de trabalho e aperfeiçoamento dos serviços aos estados. Na prática, não se trata de uma retirada da vacina, mas de sua substituição por outras ferramentas: mitigação de risco, vigilância focada em detecção precoce e preparação para atuação em emergências.
Viali lembra que vacinas representam um custo para o produtor, por isso é importante erradicar doenças, já que elas podem afetar não só o rebanho, mas a parte financeira do negócio. Ele estima que, antes da retirada da vacinação, os produtores brasileiros tinham um custo de US$350 milhões de dólares por ano apenas com as vacinas de aftosa. Isso sem levar em conta as perdas na carcaça do animal por conta de lesões pelas vacinas, além de diminuição da produção de leite pós vacinação. Este valor poderá agora ser investido para melhoria da atividade.