Pontos críticos para o sucesso do confinamento

Foto Compre Rural

O dr. Alexandre Arantes Miszura, PhD em nutrição de bovinos e consultor técnico da Trouw Nutrition, parceiro de nutrição da CFM, listou os pontos que merecem a atenção dos pecuaristas no confinamento e que podem fazer a diferença entre o sucesso e o prejuízo econômico. São eles:

Compra dos animais
O boi magro corresponde a quase 70% do custo de produção final de um boi gordo, portanto, uma boa compra faz toda a diferença. É de grande importância o investimento em animais de reposição com elevado potencial genético, que responderão de forma mais eficiente à nutrição.

Formação de lotes
Os animais devem ser separados por sexo, padrão racial e classe de peso. Lotes homogêneos contribuem para uma melhor adaptação, permitem o uso de uma dieta específica para a categoria em questão e também facilitam o manejo no momento do abate, reduzindo a necessidade de misturar lotes para formar um novo. Idealmente, o lote que iniciou o confinamento junto, também sai junto.

Estrutura e maquinário
Uma estrutura boa é aquela que atende às exigências dos animais e provoca o mínimo de problemas possível. Deve-se buscar trabalhar com baias de, no mínimo, 15 m² por animal, com cerca de 40 cm lineares de cocho por cabeça, além de bebedouros de alta vazão, que suportem 50% do consumo da baia nas 2 horas mais quentes do dia. Um vagão misturador provido de balança faz-se de extrema importância para o confinamento de alto desempenho, para que a dieta que chega ao cocho seja mais fiel possível àquela formulada pelo nutricionista.

Manejo sanitário
Segundo o prof. Danilo Millen (Unesp Dracena), os principais problemas que acometem os animais em confinamento são, nesta ordem: problemas respiratórios, acidose, laminite, cisticercose e problemas relacionados ao transporte. Dessa forma, protocolos de entrada do confinamento – como vacinas para clostridiose e desverminação – são fundamentais. Um manejo que respeite os conceitos de bem-estar animal também é importante, já que o estresse é fator predisponente de enfermidades.

Uma prática importante no confinamento é avaliar as fezes dos animais para identificar sintomas de acidose e perceber a digestibilidade dos alimentos. Sempre que forem encontrados animais com algum problema, seja de locomoção, laminite ou vazio fundo, estes devem ser medicados o quanto antes.

Composição da dieta e processamento dos alimentos
Utilizar subprodutos na dieta é uma estratégia para reduzir o custo da alimentação do gado sem comprometer seu desempenho. As melhores opções dependem muito da região em que o confinamento se encontra. Em Goiás, por exemplo, está cerca de 50% do sorgo plantado no Brasil. É um alimento energético que pode substituir o milho. No Mato Grosso, encontramos caroço de algodão, torta de algodão, casca de soja e subprodutos de etanol, como DDGS; em São Paulo, há polpa cítrica. A lista é grande e os bovinos conseguem aproveitar boa parte desses subprodutos. Para as fontes proteicas, procuramos sempre calcular o custo do ponto de proteína, ou seja, dividimos o valor da tonelada do produto pelo nível de proteína que ele possui. Dessa forma, encontramos o alimento com o quilo da proteína mais barato.

Com a escalada dos preços do milho, o máximo aproveitamento desse ingrediente é essencial. Daí a importância da correta moagem do grão seco ou até mesmo de seu uso na forma de silagem de grão úmido, quando o milho é colhido com 35% de umidade para ser então moído e ensilado. O processo de fermentação anaeróbica que ocorre nas silagens provoca solubilização da matriz proteica do grão, liberando o amido, que ficará mais disponível no rúmen, elevando a eficiência de aproveitamento pelos animais.

Adaptação dos animais à dieta
Com certeza, este é um dos pontos mais importantes no confinamento. Estamos tirando o animal do seu habitat natural (a pastagem) e mudaremos radicalmente sua dieta. A adaptação deve ser, ao mesmo tempo, segura e rápida, para não retardar o ganho de peso dos animais. De forma geral, são feitas três dietas diferentes, oferecidas durante 5 a 7 dias cada. Durante o período de adaptação, a inclusão de volumoso é gradativamente reduzida, enquanto o nível de concentrado e ureia aumentam. Com uma adaptação bem feita, conseguimos chegar ao consumo alvo entre o 10° e 15° dia de cocho.

Avaliação do volumoso
Um ponto que muitos confinadores negligenciam é a composição nutricional do volumoso. Se trabalhamos com silagem de milho, cana, capim ou sorgo, é fundamental fazer análise bromatológica desse material antes de começar o confinamento. Dessa forma, a dieta formulada será fiel ao perfil daquele alimento. Além disso, quando se trabalha com volumosos úmidos, é de suma importância fazer a checagem periódica do teor de matéria seca desse material. Pequenas discrepâncias no teor de matéria seca do volumoso podem alterar significativamente a dieta ofertada.

Manejo de cocho
A alimentação é o principal componente do custo variável de um confinamento. Sendo assim, é fundamental minimizar o desperdício de alimentos, a começar pelo correto armazenamento e distribuição da ração nos cochos. A quantidade necessária a ser ofertada será demonstrada pelos animais e monitorada por meio da leitura de cocho. Esse acompanhamento visa avaliar o comportamento dos animais, os sinais de saciedade e eventuais desperdícios de alimento.

Quando mandar para o abate?
A grande pergunta no fim do confinamento é: quando mandar os animais para o abate. A deposição de gordura na base da calda, peito, nas costelas e pescoço são indicadores visuais de que o animal está pronto para o abate. Próximo ao momento do abate, a curva de consumo dos animais começa a cair e reduz-se a eficiência alimentar, devido à maior deposição de gordura e à maior exigência de energia para mantença pelo animal. Vale lembrar que abater animais mais pesados é uma das formas em diluir os custos do boi magro, que são fixos. Dessa forma, vale a pena fazer conta, avaliar o custo da diária e decidir o melhor momento de os animais irem para o abate.

Equipe treinada
Por falar em equipe, todo o processo é desenvolvido e executado por pessoas. Ter uma equipe competente, comprometida e capacitada faz toda a diferença entre o sucesso e o fracasso no confinamento. Desenvolver o olhar crítico no colaborador e ter o senso de dono são valores que devem ser cultivados na propriedade.

Coleta de dados
Para finalizar, necessitamos cada vez mais coletar dados nas fazendas. Como disse Peter Drucker, o guru da administração, o que pode ser medido pode ser melhorado. Manter o controle de todas as métricas torna a atividade mais profissional, permitindo alinhamentos precisos e tomando decisões baseadas em dados. Dessa forma, saber o consumo de matéria seca em relação a peso corporal, peso de entrada, peso de saída, ganho médio diário, ganho de carcaça, rendimento de ganho, rendimento de carcaça, conversão alimentar, custo da @ produzida são métricas que nos mostram como o negócio está indo. Uma boa planilha de Excel ou software de gestão de confinamento ajuda nessa tarefa.