Pecuária é capaz de gerar crédito de carbono

Com o objetivo de elucidar a emissão de gases de efeito estufa pela pecuária, frequentemente considerada vilã do aquecimento global, a Embrapa conduziu uma pesquisa para medir o balanço de carbono de sistemas pastoris. Os dados foram coletados durante dois anos, em quatro diferentes sistemas de produção de bovinos com níveis de intensificação distintos – desde pastagens degradadas até pastos altamente intensificados e irrigados.

Um sistema de média lotação, de 3,3 unidades animais (UA) por hectare, em que se recuperou a pastagem degradada, foi capaz de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e ainda gerar créditos de carbono correspondentes ao produzido por seis árvores de eucalipto.

Um dos diferenciais desse trabalho foi ter sido conduzido em ambiente de clima tropical (muitos dos dados citados pela imprensa sobre a pegada de carbono da pecuária foram gerados em países de clima temperado, com base em sistemas de produção muito distintos dos que ocorrem no Brasil). Além disso, o trabalho considerou tanto a emissão como a remoção de carbono do sistema (por incrível que pareça, há trabalhos que não levam em conta o sequestro de carbono promovido pelas pastagens).

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Patrícia Perondi Anchão Oliveira, os experimentos foram desenhados para cobrir as lacunas no conhecimento sobre a real contribuição da pecuária brasileira para as emissões de GEE.

Resultados

Enquanto o sistema degradado resultou em emissão líquida de gases de efeito estufa, o sistema de produção intensificado com média lotação animal (pastagens de brachiaria, com uso de corretivos e fertilizantes, com dose de 200 kg N/ha/ano) promoveu sequestro de carbono, ou seja, removeu GEE do ambiente em quantidade superior à emitida, mesmo após computadas as contribuições da cadeia de insumos. Segundo os pesquisadores, o sequestro de carbono desse sistema foi equivalente ao crescimento de 6,27 árvores de eucalipto para cada garrote.

De acordo com a pesquisadora, os resultados desse trabalho demonstraram “o diferencial da pecuária realizada a pasto, que além de manter o animal em seu habitat, ainda traz o benefício do sequestro de carbono realizado pelo crescimento das pastagens”.

Se por um lado a pesquisa apontou que existem sistemas que podem gerar produtos pecuários com emissões neutralizadas ou com créditos de carbono, os resultados reforçam a necessidade de recuperar pastagens degradadas. “Elas apresentaram um balanço de carbono bem desfavorável, pois além das emissões dos animais também ocorreram emissões do solo, provenientes da perda da matéria orgânica”, detalha a pesquisadora.

Além do alto impacto ambiental, as pastagens degradadas apresentam baixa produtividade, o que aumenta a pegada de carbono por unidade de produto. Outro problema é o desperdício de terra, devido aos baixos índices zootécnicos obtidos (baixa lotação animal, baixa produção de peso vivo por hectare e baixo rendimento de carcaça), necessitando de mais área para a produção de carne e aumentando a pressão sobre os remanescentes florestais.

A recuperação de pastagens e a intensificação da produção de bovinos, por outro lado, melhoram o sequestro de carbono e mitigam as emissões de gases de efeito estufa, além de ter um efeito poupa-terra.

Os resultados foram publicados na revista britânica Animal, da Universidade de Cambridge, Inglaterra. O trabalho é assinado por oito pesquisadores, cinco deles da Embrapa Pecuária Sudeste.

A pesquisa foi desenvolvida com o apoio e a parceria do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), além de universidades e de outros centros de pesquisa da Embrapa.

 

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