Oportunidades para fazer 2023 um feliz ano novo!

Por Sergio Raposo de Medeiros (pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste), adaptado pela equipe da CFM.

Este 2023 parece ser um ano ainda mais desafiador do que a média, frente à conjuntura de grandes mudanças políticas internas, instabilidades externas e, por fim, virada do ciclo pecuário.

Para os empresários, sejam do campo ou da cidade, é interessante trocar ansiedade por cautela e paralisia por planejamento. Em uma época em que muitos, talvez, prefiram ficar estáticos, pode ser uma boa ideia fazer o oposto e, de um cauteloso planejamento, passar à ação.

Fato é que, nas atividades econômicas, “espaços vazios” se transformam em oportunidades e os primeiros a ocupá-los costumam se beneficiar de menores custos e/ou maiores ganhos. Nesse texto, seguem sugestões para pensar em como aumentar o investimento na fazenda, desde a gestão até ampliar as áreas de atuação da fazenda.

 

Controle do consumo de suplementos

Os suplementos, como sal mineralizado e proteinados, são formulados com base em um consumo-alvo. Assim, aferir se esse consumo está dentro do esperado pode ajudar a explicar os resultados obtidos.

Evidentemente, quanto mais próximo do consumo-alvo for a média do consumo medido de um lote melhor. O consumo excessivo também não é interessante, mas certamente é menos danoso que o subconsumo, que pode pôr a perder todo o investimento feito na suplementação.

Criar uma planilha para controlar o consumo é bem simples, pois basta ter a informação da data de fornecimento e quantidade do aporte inicial menos a sobra da data posterior para determinar quanto foi consumido pelo lote.

Para obter a média diária por cabeça, devemos multiplicar o número de cabeças pela diferença entre as datas final e inicial e este valor deve ser dividido pelo resultado do consumo do lote. O valor, em geral, é em quilogramas por cabeça por dia. Esse valor pode ser confrontado com o valor a ser perseguido.

Se estiver baixo, há uma chance de conseguir aumentá-lo, simplesmente por aumentar a oferta, sendo também válidas as tentativas de aumentar o número de cochos e/ou espaçá-los um pouco mais. Por fim, se nada disso funcionar e o sal mineralizado for feito na fazenda, a opção que resta é baixar o teor do cloreto de sódio (sal comum) na mistura até o mínimo, no consumo-alvo, que é o equivalente à exigência de sódio dos animais a ser suplementados.

 

No caso de haver superconsumo, há basicamente a opção de aumentar o teor de sódio na formulação ou restringir o consumo.

Pode-se começar por apenas alguns piquetes e aumentar gradativamente. Isso ajuda a inserir essas medições na rotina da fazenda.

 

Manejo de pasto por altura

As forrageiras tropicais precisam de um mínimo de área foliar residual para rebrotar mais rápido e ter como competir com as invasoras. Por outro lado, quando o dossel é muito alto, há perda de eficiência fotossintética e aumento de material morto. Por isso, ao longo do tempo foram definidas, para cada forrageira, as alturas recomendadas de entrada e saída dos bovinos da pastagem. Na tabela 1, valores de altura para importantes forrageiras, que são a base da nossa produção pecuária.

 

Tabela 1. Altura de pastejo (cm) das principais gramíneas forrageiras.

 

Espécies ou cultivares Altura das forrageiras (cm)
Pastejo rotacionado Pastejo contínuo
Entrada Saída Mínimo/Máximo
Capim-elefante 100-120 50
Mombaça 85 45
Zuri 80 40
Tanzânia 70 35
Quênia 65 35
Massai 55 30
Tamani 50 25
Andropogon 50 20 25-50
Xaraés, Piatã 20-40
Braquiarão (Marandu), Paiaguás, Ipyporã 20-35
Capim-braquiária 15-30
Tupi 10-20
Coast-cross, Tifton 30 10 15-30

Fonte: Costa e Queiroz (2017)

Uma ferramenta que pode ajudar, especialmente no início, é a régua de manejo, que nada mais é do que um bastão com as faixas de altura de entrada e saída das principais forrageiras. As alturas recomendadas estão indicadas em faixas verdes e os valores fora dessa faixa, em vermelho.

Usando-a facilita na percepção de ser necessário tirar os animais do pasto ou, opostamente, colocar mais cabeças para garantir não perder forragem e, além disso, ficar com o pastejo muito desuniforme, a caminho de ser aquele piquete que apenas uma roçada resolve.

 

Adubação de pastagens

Estima-se que uma porcentagem ínfima das pastagens receba algum tipo de adubação no Brasil. Isso explica tanto nossos baixos índices de produção quanto a ocorrência de grande área de pastagem considerada com algum grau de degradação. A adubação de reposição ajuda a manter a produtividade e é uma aliada importante para manter a longevidade das pastagens.

O convite aqui é para aqueles que têm menos familiaridade com a adubação experimentarem esta prática. Há quem possa ter experimentado, mas se decepcionado. Isso costuma acontecer em duas situações.

Primeiro, quando a resposta do pasto é muito boa, mas não há boca suficiente para aproveitar toda a massa de forragem produzida. Esse é o pior dos mundos, pois é feito o gasto, mas por impossibilidade de aumentar a lotação perde-se pasto, que, ainda por cima, dependendo do grau de subpastejo, acaba exigindo uma roçada.

O outro caso de insucesso é pela escolha do pior pasto para fazer o teste, seguindo a lógica de ser o que mais precisa. Nesse caso, a resposta em produção de forragem pode ser pífia e mais uma vez por falta de boca. Nesse caso, não a do animal, mas a boca das forrageiras, que são suas raízes.

Um prêmio de consolação em ambas as situações é que o sistema radicular deve ter aumentado, o que ajuda a ter melhor resultado no futuro.

 

Terminação em confinamento

O confinamento no Brasil não costuma ser uma boa opção econômica como empreendimento isolado, mas traz inúmeras vantagens para os sistemas de produção baseados em pastagem.

Grosseiramente, ganhamos um ano ao terminar o animal no confinamento e, pelas taxas de ganho ser bem mais elevadas do que as obtidas nas pastagens, os bovinos depositam gordura mais rápido, resultando em uma carcaça de melhor qualidade. De quebra, tira-se os animais mais pesados das pastagens, aliviando a carga sobre elas.

O resultado é que, além de evitar sobrepastejo, os animais que ficam no pasto têm melhor desempenho. Ao mesmo tempo, aumenta-se a lotação média anual da fazenda e produz-se mais arrobas por hectare. É por isso que, mesmo num confinamento que custe mais para engordar do que os quilogramas de peso ganhos possam pagar, ainda com esse prejuízo na arroba engordada compensa confinar.

O fato é que, na média dos anos, ter um confinamento viável economicamente ajuda a melhorar o resultado geral da fazenda. O convite aqui é para, sem pressa, criar uma estrutura simples de confinamento, em pequena escala, para fazer a curva de aprendizado, de forma que os erros custem menos.

Ao frisar o não fazer nada de atropelo é para aproveitar a principal vantagem do confinamento: a capacidade de ter tudo muito planejado. É possível fechar um lote de bovinos e saber com boa dose de acerto quanto custará e quando eles poderão ser vendidos. Portanto, estamos no oposto do improviso.

Recomenda-se investir bastante tempo em planejamento e ter assistência técnica. O importante desse primeiro arranque é aprender a fazer e, principalmente, sentir as necessidades do dia-dia para optar por aderir de vez à tecnologia, aumentando a escala ou, eventualmente, admitindo que ainda não é hora de a fazenda dar esse salto. Nesse caso, há alternativas, como a terminação em pastagens e o uso da engorda confinada terceirizada (boiteis).

 

Tratamento diferenciado de matrizes magras

Há uma forte relação entre o grau de magreza da vaca ao parto e a probabilidade de prenhez positiva na estação de monta subsequente. Vacas que parem em boas condições corporais têm maior probabilidade de emprenhar. Portanto, na hipótese de que uma porção de vacas de um lote se destaque por estar mais magra que a média, pode ser interessante criar um lote apenas com essas vacas e fazer nele um tratamento com uma nutrição de maior investimento.

A ideia é gastar mais, mas apenas nos animais com mais chance de, com maior taxa de natalidade, pagar o investimento adicional. Não costuma ser fácil incluir mais um lote no manejo da fazenda, mas pode ser interessante esse esforço.

O maior aporte nutricional pode ser pelo uso de um piquete com um pasto em condições melhores (por exemplo, um pasto safrinha de um sistema integrado com lavoura) ou pelo uso de suplementação.

 

Uso de novas cultivares de forrageiras

Pastagens são consideradas culturas perenes. A realidade da maior parte das pastagens no Brasil, contudo, é bem diferente pois, sem a devida atenção ao manejo e à reposição de nutrientes, o processo de degradação se instala e, às vezes, o que resta é renovar a pastagem.

Todavia, sempre há um lado positivo e, nesse caso, trata-se de uma grande riqueza que o Brasil tem hoje em termos de opções de forragens.

Em relação às cultivares mais plantadas atualmente, há opções mais produtivas e com características próprias que as faz interessantes para compor o mosaico de cultivares que toda fazenda deve ter.

A diversidade que o mosaico proporciona, além de características complementares, como, por exemplo, forrageiras altamente produtivas no verão ou outras que perdem menos a qualidade nutricional na seca, uma brotação mais rápida no início da seca, entre outros, garante maior resistência aos estresses como seca, doenças e pragas.

Por exemplo, se uma praga atacar mais determinado cultivar, o estrago será apenas nela e as demais poderão compensar, pelo menos em parte, o prejuízo. Uma excelente alternativa para conhecer parte dessa riqueza e que, ao mesmo tempo, ajuda a fazer as escolhas por uma ou outra forrageira é o aplicativo Pasto Certo.

 

Adoção de sistemas integrados

Sistemas integrados nos quais fazemos combinações com agricultura-pecuária e floresta se mostraram uma das melhores formas de se produzir alimentos, pois não só há muita complementaridade entre as atividades, como situações sinérgicas, ou seja, aquelas nas quais o todo é maior do que a soma das partes feitas de maneira isolada.

Por exemplo, a pastagem aumenta o teor de carbono no solo e melhora suas características físicas e químicas. O sistema integrado com lavoura, por sua vez, deixa o pasto safrinha na entrada da seca, no qual os animais têm ganhos semelhantes ao das águas. Há vantagens operacionais, com um possível melhor aproveitamento de mão-de-obra, e vantagem econômica, com maior diversidade de receitas. Muitas vezes, a alta de um ajuda a compensar a baixa da outra.

Para o pecuarista, uma forma de começar pode ser fazendo uma parceria com um bom agricultor, como meeiro. O aprendizado inicial fica da observação do trabalho do parceiro, o que pode reduzir bastante erros de iniciante.

 

Faça algo que sempre quis fazer

Nesse texto, foram listadas opções para começar algo novo, mas a riqueza dos nossos sistemas de produção e a criatividade e inteligência dos nossos produtores nunca esgotam as possibilidades. Assim, fica esse item para encorajar os interessados a inovar.

No caso da inovação ficam dois alertas: (1) não querer desafiar curvatura do círculo ou outra obviedade qualquer e (2) não abusar demais da lógica. Ainda que inovações ocorram com quebras de paradigmas, algum recato costuma ser bom, para evitar grandes micos.