O tema do momento, pelo ponto de vista de especialistas

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O surto do novo Coronavírus, que já afeta diversos países pelo mundo, tem sido o foco do mercado agrícola e financeiro nas últimas semanas. A doença, que teve o primeiro caso registrado na China, já fez as bolsas internacionais sofrerem queda acentuada, o dólar a disparar e o preço das commodities cair. De acordo com o Valor Data, em fevereiro, os preços internacionais da soja caíram 3,6%, do milho 2,5% e do algodão 4,5%.

Tamanho impacto deriva do temor de que o avanço do vírus reduza o desempenho da economia mundial e a demanda por produtos agrícolas. Estimativas da OCDE apontam para um o crescimento mundial de apenas 2,4% em 2020, o menor desde 2009.

Segundo analistas do Rabobank, banco especializado em agronegócio, os impactos do vírus devem ser de curto prazo, com retomada acelerada do setor no segundo semestre. Isso depende, no entanto, da duração da propagação do vírus. Para a carne bovina, o banco prevê uma queda nas importações chinesas no primeiro semestre. Estoques elevados, a carne não consumida no Ano-Novo chinês e os pontos de distribuição fechados vão retardar novas compras. Apesar disso, as estimativas são de aumento das compras no segundo semestre.

Marcos Fava Neves, professor da USP de Ribeirão Preto e profundo conhecedor do agronegócio, divulgou recentemente sua visão sobre os impactos do novo Coronavírus no agronegócio, com perspectivas até positivas para a pecuária brasileira. Segundo ele, as limitações impostas à circulação de mercadorias na China devido ao Coronavírus prejudicaram a produção local de frangos e de suínos. “Ainda não se tem mais informações sobre a magnitude do problema, mas somado à crise de peste suína africana, esse fato pode ter afetado a oferta chinesa negativamente, tendo consumido estoques e acendendo o sinal para voltar a importar mais”. E complementa, “Do lado da demanda, verifica-se na China a mudança de hábito de consumo de produtos exóticos (morcegos, cobras e outros) para carnes tradicionais e mais seguras, inclusive via exigência governamental, abrindo espaço para mais importações. Temos que verificar essa hipótese com mais calma, mas acredito que ocorrerá”.