O que as fazendas de cria mais lucrativas têm em comum?

Por Antonio Chaker El-Menari Neto, adaptado pela equipe CFM

“Grande parte do nosso trabalho é buscar compreender quais são os fatores que mais impactam o resultado de uma operação agropecuária e como potencializá-los”, explica Antonio Chaker, do Instituto Inttegra. Nesta jornada, Chaker estudou com profundidade algumas centenas de fazendas e reuniu evidências claras do que realmente importa.

“Se uma fazenda de cria tivesse que escolher apenas uma métrica, sem dúvida nenhuma seria quilos de bezerro desmamado por matriz exposta”, destaca Chaker.  Este indicador leva em consideração a fertilidade, a perda pré-parto, mortalidade de bezerro, taxa de desmame e peso ao desmame. Em última análise, ele representa o desempenho técnico da cria e apresenta elevada correlação com o resultado econômico.

As fazendas de cria que tiveram prejuízo na última safra produziram 129 kg de bezerros, enquanto a média, 138 kg e, as mais lucrativas, 164 kg/matriz/ano.  A produção das mais rentáveis é consequência de uma taxa de desmame superior a 75%, com peso médio ao desmame maior que 215 kg, em uma lotação de 1,38 UA/ha ou mais. Se a uma fazenda de cria quer ser referência em lucratividade, essas referências são a base.

Para que os resultados acima descritos sejam conquistados, alguns processos são determinantes. As propriedades mais lucrativas sempre têm definida qual a meta reprodutiva para cada categoria: novilhas precoces (12 a 14 meses de idade), novilhas tardias (24 meses), primíparas e pluríparas (vacas).

A genética, nutrição e sanidade vão definir se a novilha entrará em monta com 14, 24 ou 30 meses. Melhor que seja aos 14 meses, mas vale lembrar que primeiro deve-se colocar o gene da precocidade no rebanho para depois expressá-lo com a nutrição. O caminho inverso é caro e ineficiente. Para que as novilhas cheguem à estação de monta com peso adequado, recomenda-se adotar pesagens trimestrais a partir da desmama para monitorar o desempenho e realizar correções nutricionais sempre que necessário.

Do ponto de vista genético, é possível perceber se existe melhoramento com uma pergunta muito simples: as novilhas da próxima monta são muito melhores que as vacas de 4 anos? Se sim, há evolução! “Ser melhor é ser mais precoce, com maior potencial reprodutivo, maior habilidade materna, conformação moderna, musculosidade e outros”, explica Antonio Chaker. Para obter tal avanço, o uso de touros comprovadamente melhoradores é obrigatório.

Após a conquista da fertilidade, as melhores fazendas conseguem limitar as perdas pré-parto a, no máximo, 5%. Estratégias de manejo sanitário são cruciais para atingir essa meta. Durante a gestação, é importante manter a atenção à qualidade da dieta da mãe, que vai interferir no desenvolvimento do bezerro inclusive após o parto.

Garantindo todos estes elementos antes do bezerro nascer, vem o manejo de maternidade. O bezerro deve mamar o colostro em tempo certo, o materneiro efetuar a identificação, a cura de umbigo adequada e a vermifugação de proteção. “Esses passos são chave para o desenvolvimento do animal”, ressalta Chaker. A jornada pós nascimento segue com o protocolo sanitário dos quatro meses quando vacinas (em destaque a brucelose) e vermífugo são aplicados. Os cuidados seguem até o desmame com mais uma importante rodada sanitária.

Em termos de desempenho reprodutivo, segundo Chaker, um ponto é unânime: o êxito da fertilidade tem alta correlação com o ganho de escore corporal durante a estação de monta. Parir bem e conceber novamente é a meta e, para que se tenha êxito, a nutrição, mais uma vez, desempenha papel central.

Colocados os principais processos das fazendas mais lucrativas, é possível identificar outro elemento em comum: líderes com autonomia para trabalhar, comprometidos com o orçamento e com visão clara sobre o que indicará o sucesso da safra. A equipe de campo também desempenha papel importante e deve ser reconhecida pelo seu desempenho, assim como ser periodicamente treinada para executar com excelência as atividades diárias.

Chaker conclui destacando os valores presentes nas melhores propriedades de cria: “foco no resultado, melhoria contínua, asseio, respeito às pessoas, aos animais e ao planeta”. Estas fazendas renovam seu sonho grande a cada estação de monta e inspiram pessoas a buscar sempre mais.