O papel da carne na sociedade – o que diz a ciência

 

A revista Animal Frontiers reuniu cientistas para debater as mais recentes evidências científicas sobre o impacto do consumo de carnes na saúde e no meio-ambiente. As principais conclusões dos autores foram:

– reduzir o consumo de carnes com o objetivo de melhorar a saúde pode acabar tendo o efeito contrário;

– os ruminantes, quando manejados adequadamente, desempenham papel central na preservação dos solos;

– animais de produção são capazes de otimizar os sistemas de produção de alimentos, transformando subprodutos em alimento de alta qualidade nutricional.

 

Confira a seguir um resumo da publicação original, traduzido e adaptado pela equipe CFM.

 

O consumo de carnes está relacionado a refeições saborosas e nutritivas na maioria das culturas e durante boa parte da história humana. Porém, registros históricos também mostram episódios frequentes em que o consumo de carnes foi desaconselhado ou até proibido, por razões culturais, espirituais, nutricionais ou econômicas.

O debate acerca do consumo de carne é antigo e, geralmente, acalorado. É, portanto, justo, que cada geração volte a questionar, sob a luz do avanço científico, o papel da carne na dieta humana.

Pensando nisso, a última edição da revista Animal Frontiers, buscou reunir as mais recentes evidências científicas sobre o impacto do consumo de carnes na saúde e no meio-ambiente, passando também por questões econômicas e discussões éticas.

No texto de hoje, vamos resumir os pontos trazidos pelos cientistas em relação à saúde e à preservação ambiental.

Saúde

No quesito saúde, o artigo demonstra que o Homo sapiens evoluiu tendo a carne como parte da dieta e que esse tipo de alimento é, não apenas compatível com o metabolismo humano, como também fonte de um amplo espectro de nutrientes, muitos dos quais carentes em dietas ao redor do mundo. A carne é, portanto, um alimento que dificilmente terá um substituto direto na dieta humana. Populações com acesso limitado a carnes tendem a sofrer com a deficiência de alguns micronutrientes ou com consumo insuficiente de proteínas de elevada qualidade. Em resumo, o consumo regular de carne parece trazer inúmeros benefícios nutricionais.

Quanto aos eventuais riscos trazidos pelo consumo de carnes, as evidências científicas disponíveis hoje são fracas e, na opinião dos autores, insuficientes para motivar qualquer ação de redução das quantidades atualmente consumidas. Ainda assim, os autores explicam que, devido a ampla gama de produtos disponíveis e seus diferentes graus de processamento, é recomendável evitar o consumo excessivo de carnes processadas.

A conclusão dos autores é de que reduzir os níveis de consumo de carnes com o objetivo de melhorar a saúde pode acabar tendo o efeito contrário, especialmente em grupos com elevadas demandas nutricionais.

 

Ambiente

Considerando que nossa espécie já alterou significativamente os ecossistemas terrestres e que retornar ao ambiente prévio à existência humana seria um cenário pouco realista, o artigo defende que o desafio será estabilizar os ciclos naturais e, ao menos, preservar a biodiversidade remanescente. Para isso, será necessário preservar, não apenas florestas, mas também os biomas tipo savana, ambientes de vegetação rasteira que desempenharam papel central na evolução da vida, inclusive da espécie humana. Segundo os autores, a preservação das savanas e campos depende da interação entre plantas forrageiras e animais ruminantes. O manejo adequado do pastejo dessas forrageiras permite recuperar o solo e, inclusive, sequestrar carbono.

Outro papel importante dos rebanhos está na otimização dos sistemas de produção de alimentos. Há que se considerar que a produção de alimentos de origem vegetal gera como subproduto grandes volumes de biomassa que não podem ser aproveitados na alimentação humana. E os animais são capazes de aproveitar esse recurso, contribuindo para a reciclagem de nutrientes e, ao mesmo tempo, produzindo alimento de elevada qualidade.

Os autores concluem, portanto, que o manejo animal é essencial para a sustentabilidade ambiental.

 

Material completo disponível em: https://academic.oup.com/af/article/13/2/3/7123474