O artigo “O que pode acontecer de inédito no mercado global da carne” foi escrito pela médica-veterinária e consultora Lygia Pimentel para a Forbes para discutir “o atual cenário para os mercados pecuários de Brasil, Estados Unidos, Argentina e Austrália”.
Ela diz que há grandes chances de um “alinhamento inédito de astros” no mercado pecuário global a partir de 2025. “Estamos em plena fase de liquidação de fêmeas, considerando o ciclo pecuário brasileiro. Preços em queda e produção recorde fazem parte desse contexto no momento, mas levam ao desânimo e à necessidade de liquidação para fazer caixa por parte do produtor. Isso significa que, em se mantendo essa situação para a categoria, haverá de faltar oferta para abastecer tanto o mercado interno quanto externo nos próximos anos”.
Ela comenta a respeito de uma atitude frequente dos pecuaristas de que quando a situação está ruim, eles liquidam e reduzem a produção. Ela assinala: “considerando ainda que o Brasil representa algo em torno de 17% da oferta global de carne bovina e 20% das exportações, já dá para imaginar a influência positiva que a falta da produção de carne bovina brasileira vai trazer sobre os preços do mundo afora”.
Sobre os demais grandes players do mercado mundial de carne, Lygia Pimental destaca: “Estados Unidos, Argentina e Austrália, juntos, são mercados responsáveis por 48% da produção e por 55% da exportação globais. Enquanto o Brasil vive a derrocada dos preços pecuários, nos Estados Unidos o ambiente é totalmente diferente. A virada de ciclo para alta está acontecendo e apontando para forte retenção de fêmeas à frente, após a famosa liquidação ter acontecido por lá também”.
“Para ter uma ideia, os Estados Unidos terminaram 2023 com rebanho de 87 milhões de cabeças –esse será o menor rebanho de bovinos da história dos norte-americanos”.
Quanto à Argentina, “quinto maior exportador global de carne bovina, tem vivido uma intensa seca que afetou as condições de pastagem em seu rebanho e incentivou uma forte liquidação de animais durante os quatro primeiros meses de 2023. Esse aumento de oferta levou à desvalorização dos preços pecuários no país, acompanhado de aceleração de abate de fêmeas, que leva à projeção de rebanho 4% menor em 2025 em relação ao atual. Portanto, menos oferta também”.
Em seu artigo na Forbes, Lygia escreve que “a Austrália sai um pouquinho dessa linha. Em um ciclo parecido com o do brasileiro, enfrenta aumento de rebanho e na oferta também de animais e, consequentemente, forte redução nos preços pecuários, atualmente”.
Ela conclui o artigo com uma reflexão. “Como reflexo desse aumento de rebanho, principalmente de matrizes, podemos ver a forte desvalorização que esse gado jovem está apresentando. O bezerro, principalmente. E esse desestímulo poderá jogar a próxima fase de alta de preço da Austrália para 2026, logo na sequência dos demais players que citei aqui. Todo esse contexto coloca uma grande pressão de redução sobre a oferta de carne bovina no biênio 2025 e 2026, sugerindo que, juntos – Brasil, Estados Unidos e Argentina e em parte a Austrália –, deverão estar alinhados e compartilhar temporalmente, pela primeira vez na história, as suas fases de alta de ciclo”.