China, o outro lado do sucesso da carne brasileira

Reproduzimos parte do artigo de Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro, sobre as relações do Brasil com a China, particularmente em relação à carne bovina.

“A China, com 1,4 bilhão de habitantes, responde por 18% da população mundial. O país vive mudanças significativas. Em 20 anos, o produto interno bruto (PIB) per capita aumentou 10,5 vezes, saindo de pouco mais de US$ 950,00 para os atuais US$ 10.100,00. Trata-se de uma máquina em crescimento, urbanização, desenvolvimento de infraestrutura, produção, comércio, consumo e serviços. Por mais organizados e competentes que sejam, controlar tudo e garantir a qualidade não é tarefa fácil, especialmente quando envolve biologia, com a presença de microrganismos, combinações e mutações ainda desconhecidas pela ciência.

Pela quantidade de gente no país e pelo dinamismo das mudanças, nada mais natural que doenças acabem surgindo justamente por lá, como o atual caso da Covid-19 e outras gripes e zoonoses conhecidas, como a peste suína africana e a gripe aviária. Se tem um lugar no mundo que está sendo realmente desafiado, esse lugar é a China.

Sendo os chineses parceiros comerciais relevantes para o Brasil, é essencial manter uma boa relação com eles. A vantagem dessa relação com os chineses não se restringe apenas aos exportadores. Se há carne a preços acessíveis, parte disso pode ser atribuída ao faturamento obtido com as vendas externas. E a China compra 35% de toda a carne bovina exportada pelo Brasil. Isso possibilitou, inclusive, todo o desenvolvimento, modernização e oferta garantida de carne para consumo interno.

A expansão das compras chinesas coincide com a consolidação do Brasil como principal exportador do mundo. Até o início dessa década, Brasil, Estados Unidos, Austrália e Índia competiam pelo primeiro lugar no ranking internacional. Para 2020, as projeções anteriores à pandemia indicavam que o total exportado pelo Brasil atingiria 2,8 milhões de toneladas de carne bovina, em equivalentes carcaça. A quantidade, se confirmada, será maior do que a soma das exportações dos Estados Unidos e Austrália que ocupam, respectivamente, segundo e terceiro lugares no ranking.

Mais surpreendente ainda é que o Brasil exporta apenas 23% do total de carne bovina produzida. Considerando exclusivamente a produção com fiscalização federal (SIF), realizada em estabelecimentos que podem se habilitar para exportações, o Brasil enviou 40% do total produzido em 2019.
Esse sucesso só foi possível pela produtividade. Em uma década, a produção de carne bovina aumentou 20%, com o rebanho apenas 0,6% maior. A área de pasto reduziu 8,4% no período, ocupando área 14,8 milhões de hectares menor. Em 2020, a pecuária brasileira está operando com produtividade 31% maior do que em 2011. As exportações aumentaram 90% no período.

A parceria comercial com a China acelerou o desenvolvimento do setor de carne bovina. Enquanto os chineses demandam, o Brasil inova, se desenvolve, melhora. Juntos, os dois países vão quebrando um velho paradigma, de que o consumo de carne bovina seja inacessível aos mais pobres e que, no futuro, também será inacessível à classe média. Mesmo com toda a importância do Brasil como fornecedor, enganam-se aqueles que acham que a dependência da China os torna tolerantes a qualquer tipo de insultos. Em qualquer mercado, a posição mais forte sempre é a de quem compra. Não vale a pena arriscar”.