Agronegócio é resiliente e cria oportunidades e desenvolvimento

Nos últimos dez anos, a economia como um todo sofreu recuo de 1,2%, mas o Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária acumulou salto de 25,4%, demonstrando não apenas a resiliência do setor em períodos de crise, mas sua relevância para a atividade econômica. Priscila Pereira Pinto, CEO do Instituto Millenium, diz que a tecnologia tem sido um fator importante para explicar esse desempenho. “O setor vem criando oportunidades de crescimento a partir de tecnologias desenvolvidas pelo próprio agronegócio.”

Os avanços acumulados pelo agronegócio nos últimos anos acabam transbordando para os demais setores da economia, estimulando o crescimento no interior do país ou, pelo menos, evitando um mergulho mais drástico do PIB como um todo.

Segundo Nicole Rennó Castro, pesquisadora da equipe de macroeconomia do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA, da Esalq/USP), sob a ótica da produção a agropecuária precisa consumir insumos em escala crescente de forma a produzir mais. “Para que essa produção chegue no consumidor final, seja para a exportação ou para as famílias brasileiras, uma diversidade de serviços de transporte, comércio, armazenamento e outros são utilizados. Então, o bom desempenho do campo puxa consigo outros setores econômicos”, analisa Nicole.

Em termos de consumo, a pesquisadora nota que mais de um quinto de toda a população ocupada está hoje no agronegócio. Nesse caso, o salto de 24,31% registrado pelo PIB do setor em 2020, sob o conceito de renda (considerando preços recebidos e volumes produzidos), “reflete diretamente na renda daqueles trabalhadores e de suas famílias”, observa.

“Uma parte disso se transforma em novos investimentos na agropecuária; outra parte vira consumo dessas famílias relacionadas ao agronegócio, que estão espalhadas por todo o Brasil, e movimenta as economias locais. Há, portanto, um efeito multiplicador via demanda, muito importante por essa perspectiva também”, considera Nicole.

O ex-ministro e coordenador do FGV Agro, Roberto Rodrigues, destaca que o país desenvolve uma “tecnologia tropical sustentável”, com terras e principalmente com gente. Ele informa que Europa e Ásia estão às voltas com os desafios gerados pelo envelhecimento do pessoal no campo, ao contrário do processo ocorrido no Brasil. “Houve um rejuvenescimento das lideranças rurais mais recentemente, com o retorno dos jovens ao campo, com melhor formação técnica e em gestão”, observa. Além disso, o Brasil é o único país que ainda dispõe de condições para crescer em área e em produtividade.

Segundo dados da Embrapa, o país é o quarto maior produtor mundial de grãos, com fatia de 7,8% da produção global no ano passado, e o segundo maior exportador, com participação de 19% no mercado internacional, considerando-se os volumes exportados.

* Adaptação de artigo originariamente publicado no jornal Valor Econômico