Por Sérgio Raposo de Medeiros, adaptado pela equipe CFM
A cria é a fase mais desprestigiada da produção de bovinos de corte. Normalmente, o par vaca-bezerro é relegado às piores pastagens. Seria possível produzir o mesmo número atual de bezerros com cerca de 15 milhões de vacas a menos, se nossa taxa de fertilidade aumentasse dos atuais 65,0% para 80,0%.
Portanto, há grandes chances de melhoria dos índices de fertilidade na desmama, por ganhos de eficiência, que trazem benefícios ambientais junto com maior renda para o produtor. A meta de 80,0% de fertilidade quase que se impõe!
O objetivo deste texto é fazer um apanhado das opções para atingir melhores resultados na cria.
– Sanidade: um bom programa de vacinação junto com um manejo sanitário que reduza riscos, costuma ser eficiente para manter a fazenda livre de maiores problemas com doenças reprodutivas. A Embrapa Gado de Corte tem uma sugestão de calendário sanitário com as principais ações a serem consideradas em termos de prevenção às doenças, bem como do controle de endo e ectoparasitas. Pode ser acessado em https://cloud.cnpgc.embrapa.br/calendario-manejo/calendario/.
– Manejo reprodutivo: As atividades reprodutivas na fazenda devem ser muito bem organizadas para que se obtenha bons índices de fertilidade. No caso do Brasil, em que a maioria da reprodução é feita com monta natural, as condições dos touros são importantes. Assim, trabalhar com animais que tenham passado por exame andrológico e que, de preferência, sejam melhoradores do rebanho são importantes fatores de ganho de eficiência. É fundamental definir bem a relação touro:vaca que, apesar de ter um valor médio de 1:30, pode variar bastante em função de características do touro e particularidades da fazenda.
– Nutrição: A condição corporal das vacas é um fator crucial para bom desempenho reprodutivo, pois vacas magras são associadas à baixa taxa de fecundação. Pela elevada relação que a condição corporal tem com as taxas de natalidade, o principal objetivo da nutrição para vacas em reprodução é fazer com que elas nunca estejam magras ao parto e que, uma vez parindo em boa condição, mantenham essa condição até o próximo parto.
– Melhoramento genético: Um aspecto bastante importante no aumento da eficiência reprodutiva é o melhoramento animal.
A meta de 80,0% de taxa de fertilidade foi escolhida por ser viável para nosso plantel majoritariamente zebuíno, apenas com bom manejo de pasto e a suplementação com sal mineral nas águas, e sal ureado na seca. Essa taxa teria a vantagem acelerar a incorporação dos avanços do melhoramento ao obrigar a repor 20,0% das matrizes que não emprenharam até o final da estação de monta, ao seguir a recomendação de descarte de 100,0% das vacas falhadas.
Uma das características que tem sido bastante trabalhada em animais zebuínos é ter fêmeas que entram em reprodução com menor idade. A boa notícia é que estamos avançando bastante nesse campo, também. Essa é uma das características interessantes de serem incorporadas às fazendas de cria.
É importante não perder de vista que, se animais melhorados são mais produtivos, consequentemente são também mais exigentes nutricionalmente e devemos considerar isso no plano nutricional da fazenda, que deve ser compatível com a genética utilizada. A questão principal é que os custos desse ajuste do plano nutricional são mais do que compensados pela maior produção.
– Bem estar animal: A fase da cria provavelmente é a que mais se beneficia pela incorporação do uso das práticas de bem-estar animal (BEA) na fazenda. O manejo de vacas com bezerro sempre é mais desafiador, para o que o treinamento dos peões com manejo racional faz ainda mais diferença do que para as demais fases. Outra vantagem é o condicionamento do bezerro ao manejo racional que costuma só melhorar ao longo do tempo e que, portanto, resultará em matrizes e touros mais fáceis de serem trabalhados no futuro.
Para finalizar, o importante é que tenhamos a preocupação em manter a vaca o tempo todo bem nutrida, de forma a permitir que o bezerro se mantenha inclinado para ser um bom futuro boi ou touro.
Texto na íntegra em Scot Consultoria