Primíparas de Corte – Como Melhorar a Taxa de Prenhez?

Por: João Marcos Beltrame Benatti, Gerente de Produtos para Ruminantes Trouw Nutrition

Primíparas, como o próprio nome diz, são aquelas que parem pela primeira vez. É uma categoria que representa, em média, 19% das fêmeas em reprodução nas fazendas e que costuma apresentar baixa taxa de prenhez (em média, abaixo de 40%). Esse fato se justifica devido a uma série de fatores, sendo, o mais impactante a condição nutricional.

A energia requerida por um animal é, basicamente, a energia que precisa para se manter somada à energia para produzir. Na escala de partição energética de uma vaca, ou seja, a redistribuição da energia consumida durante 1 dia, existem prioridades. Em primeiro lugar, a energia é destinada para a manutenção (bater coração, atividades hepáticas, respiração, etc). Assim que essa necessidade é atendida, a energia que está “sobrando” é destinada para a produção de leite (a vaca necessita manter o bezerro que pariu). Quando a energia para lactação é preenchida, o direcionamento é para crescimento (caso das primíparas). E se, ao final de toda a partição, “sobrar energia”, ela irá destinar à reprodução. Assim, a reprodução é um “luxo energético” para a fêmea, principalmente no caso das primíparas que ainda estão demandando energia para crescimento.

Não é somente a partição energética que afeta a fertilidade das primíparas. Escores corporais baixos à parição (escores menores que 4 – escala de 1 a 9) e tempo em balanço energético negativo (BEN) também comprometem a prenhez. Toda fêmea tem um período de perda em peso logo após o parto (BEN – perda pode chegar a 70 kg), desencadeado pela reduzida capacidade de ingestão de alimento e alta exigência para produção de leite (pico de lactação). Uma fêmea somente volta a ciclar quando superar o BEN e parar de perder peso (aproximadamente 60 dias pós-parto). No caso de primíparas, o tempo em BEN e a perda de peso são ainda maiores devido à exigência de energia para crescimento.

Para ajudar a contornar esse quadro, várias estratégias de suplementação podem ser empregadas.

 

Vamos falar um pouco sobre suplementação

Quando ouvimos a palavra suplementação pensamos, quase que instintivamente, que suplementos são aqueles que contém farelos, grãos e aditivos. Porém, os suplementos minerais também entram nessa conta. A suplementação mineral deve ser fornecida para todos os animais de todas as categorias do rebanho devido à necessidade de corrigir deficiências da forragem.

Suplementação adequada pode levar primíparas a índices de prenhez semelhantes aos das multíparas do rebanho.

O primeiro passo é separar as primíparas das multíparas, para evitar o fornecimento de suplemento para animais que não precisam. Também, é essencial que se faça a separação de lotes de primíparas de acordo com a parição. Por exemplo, em uma propriedade com três meses de estação de monta, podemos separar as primíparas em três lotes, um lote para cada mês de parição (Lote 1, Lote 2 e Lote 3).

– Lote 1. As primíparas que parem no primeiro mês da estação de parição, provavelmente, não terão problemas em emprenhar devido ter mais tempo de estação de monta e mais tempo de recuperação de BEN e escore corporal. Para esses animais, dependendo da qualidade da forragem que estão consumindo, não será necessária mais do que suplementação mineral.

– Lote 2. As primíparas que parem no segundo mês da estação de parição podem precisar de um auxílio nutricional, principalmente aquelas que pariram mais magras. Para esses animais pode-se fazer necessária a inclusão de suplementação proteica (suplemento de consumo de 1 g/kg de peso corporal) por 60 a 90 dias após o parto.

– Lote 3. As primíparas que parem no último mês de estação de parição terão pouco tempo para emprenhar. Geralmente foram novilhas que entraram em estação de monta mais leves. É muito importante que se forneça maior nível de concentrado com suplementação proteico energética (consumo de 3 a 5 g/kg de peso corporal dependendo do escore de condição corporal) por 60 a 90 dias após o parto.

Outro ponto que tem interferência direta nos índices das primíparas é o peso à primeira cobertura das novilhas. Emprenhar animais leves trará dificuldade de emprenhá-los após o primeiro parto. Deste modo, traçar um plano nutricional para as bezerras de reposição também auxiliará a melhorar a taxa de prenhez das primíparas no ano seguinte.

Uma estratégia comumente empregada nas propriedades é a antecipação da estação de monta das novilhas, começando, por exemplo, 1 mês antes da estação de monta normal da propriedade, proporcionando às primíparas mais tempo para emprenhar após o primeiro parto. O problema dessa estratégia é que quando as novilhas parirem, estarão no pior momento da estação seca e com exigência de energia muito alta. Assim, essa técnica pode não ser eficaz, ou até impor a necessidade de suplementação proteica ou proteica energética para todas as primíparas.

 

Problemas ocultos

Outro problema que pode estar prejudicando a taxa de natalidade da fazenda, é a perda embrionária. A mortalidade embrionária costuma ocorrer nos primeiros 60 dias após a concepção e pode provocar diferença de 10 pontos percentuais na taxa final de prenhez. Uma das causas dessa perda se deve aos baixos níveis de progesterona (hormônio da gestação) em algumas fêmeas, principalmente primíparas, ocasionando o “não reconhecimento da prenhez”.

Uma forma de reduzir essas perdas é fornecer ácido linoleico (ômega 6) durante a estação de monta. Como relatado em pesquisas, quando o ácido linoleico é absorvido pelo intestino da fêmea, desencadeia reação hormonal e aumenta os níveis de progesterona, reduzindo as perdas embrionárias. Vale ressaltar que esses ácidos graxos necessitam ser “protegidos” da degradação ruminal para que cheguem ao intestino dos animais. Desta forma, fornecer gordura protegida de óleo de soja na dieta de primíparas em estação de monta também pode contribuir para maiores taxas de prenhez ao fim da estação de monta.

 

Resumindo…

As primíparas respondem muito bem à suplementação. Para que essa estratégica seja economicamente viável, é importante fornecer suplemento apenas aos animais que realmente precisam, separando as fêmeas de acordo com idade e época de parição. Assim, deixamos de enxergar as primíparas como fonte de prejuízo e passamos a vê-las como importante meio de renovação do plantel e evolução genética do rebanho.